Desde março de 2015, uma investigação do Ministério Público estadual começou a deflagrar um grande esquema de desvio de dinheiro público na Secretaria de Educação do Paraná. A partir de uma denúncia anônima, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público tomou conhecimento de uma série de irregularidades envolvendo fraudes em licitações do Governo do Paraná que seriam destinadas à construção de escolas.
Meses antes, a mesma denúncia já havia chegado às mãos do então Superintendente da Sude, Jaime Sunye Neto, que, juntamente com a Comissão de Licitação e Obras e o ex-secretário, Fernando Xavier propôs instaurar uma sindicância interna na Secretaria. A intenção era averiguar as falsas autorizações dos engenheiros que atestavam o ‘bom’ andamento das obras, sem que elas sequer tivessem saído do chão, para liberar o dinheiro à empreiteira contratada; a Construtora Valor.
Mas não foi o que aconteceu. Naquele momento, nenhum órgão de controle da Secretaria de Educação se manifestou publicamente sobre as irregularidades. Paralelamente, o MP avançava nas investigações e a situação começava a se tornar insustentável. Xavier e Sunye já haviam coletado ainda mais informações que confirmavam o esquema de desvio de dinheiro e pediram então o afastamento do Engenheiro responsável pela fiscalização das obras, Evandro Machado. Na sequência, pediram a exoneração do Diretor de Engenharia Maurício Fanini e a abertura da sindicância. Porém este último, Fanini, era amigo, parceiro de tênis do governador, e mandou demitir Xavier e Sunye.
Fanini ganhou outro cargo em comissão no gabinete do governador, mas com o estouro do escândalo na mídia, pouco tempo depois, foi exonerado definitivamente. As investigações já estavam adiantadas demais para o governo encobrir o escândalo, que resolveu ‘mostrar serviço’ e divulgar para a imprensa que era o autor da sindicância da SEED.
Para o deputado estadual Requião Filho (PMDB), esta foi apenas uma manobra para vir a público e explicar a demissão ‘repentina’ de Fanini, acusado de receber propina da Construtora Valor. Ela recebia os pagamentos integrais dos cronogramas financeiros das obras, mas ao invés de escolas quase prontas, eram somente algumas paredes, terrenos descampados ou nada além da fundação.
As investigações que já estavam nas mãos do Nurce (Núcleo de Repressão aos Crimes Econômicos), chegaram também ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) e a operação foi então batizada de “Quadro Negro”. Começava aí a se desvendar o esquema milionário de desvio de dinheiro público no Paraná.
Requião Filho propôs instalar uma CPI na Assembleia Legislativa, para investigar o envolvimento político por trás do esquema de corrupção no Governo do Estado, mas apenas doze, de 54 deputados, assinaram o pedido e a comissão até agora não aconteceu.
Descobriu-se então que, só em 2014, foram pagos R$24,8 milhões à Valor, construtora registrada em nome de funcionárias ‘laranjas’, acusada de usar o dinheiro para abastecer a campanha à reeleição do governador Beto Richa e de outros três deputados.
Há seis meses, com o andamento das investigações, o Governo do Paraná entrou com uma Ação Civil Pública na 1ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, por dano ao erário, contra a Valor Construtora e quatro pessoas ligadas à empresa. Ironicamente, Maurício Fanini não foi incluído. Por envolverem nomes com foro especial, os depoimentos foram encaminhados pelo Gaeco à Procuradoria-Geral de Justiça, que levou as peças à Procuradoria-Geral da República, em Brasília. E até hoje, as escolas continuam no sonho da população que acreditou no “melhor está por vir”.